De acordo com a Organização Mundial da Saúde, "a sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e integrações, portanto, a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deve ser considerada como direito humano básico. A saúde sexual é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor".

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O peso do sexo (para mulheres P, M, ou G) - Revista TPM

Se você nunca travou na hora de mostrar o corpo entre quatro paredes, tire a primeira peça.
Por Eriane Abdallah e Paula Rotman


O clima esquenta, ele fecha a porta. Não resta nada a fazer, a não ser... tirar a roupa. E aí você apaga a luz? “Não me troco na frente do meu namorado, meu corpo me incomoda mais agora do que quando eu era gorda”, assume Ana Luiza, 25 anos e 66 quilos. Em 2006, ela ultrapassou os 100 de propósito e fez a cirurgia de redução do estômago. Gabriela Aguiar*, 21, pesa os mesmos 66, mas nunca passou disso. Não se encaixa no ideal de magreza vendido pela mídia porque tem estrutura grande: quadril largo, pernas grossas, seios fartos. E diz que é impossível relaxar na praia, na piscina, no vestiário, no sexo. Independente de quanto pese, você também já deve ter sentido um frio na espinha na hora de revelar ao parceiro – ou seria a si mesma? – se a depilação está em dia, se as curvas não são assim tão exatas e se celulites e cicatrizes fazem parte do pacote.
Já os namorados de Ana Luiza e de Gabriela, como a maioria dos homens, não estão preocupados em analisar imperfeições. Ao contrário. “Homem gosta de ter onde pegar. Quem gosta de pele e osso é mulher”, garante o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Projeto Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas, de São Paulo. Mas, apesar de elas se incomodarem com olhar alheio, ele não tem poder de aliviar a insegurança. “Não adianta namorado, mãe ou amiga dizerem que você está ótima. Você sabe que não está”, confessa Gabriela. Para o psiquiatra, esse comportamento está diretamente ligado às relações “vazias”, que muitos casais estabelecem. “O outro é só uma distração. Não importa o que ele diga, se ela não está bem consigo mesma, vai continuar se sentindo mal”, observa ele.
Mas, com um padrão utópico de beleza assombrando o imaginário feminino pela mídia, pelas vitrines, pelas clínicas estéticas, as mulheres não sossegam. “Elas acreditam que sua imagem não condiz com uma expectativa, então acham que não são atraentes, e o principal motivo é estar fora do peso”, confirma a psicóloga e terapeuta sexual Christine Gribel. Em sua clínica particular, no Rio de Janeiro, 40% das pacientes em terapia sexual apresentam algum tipo de distúrbio relacionado a auto-imagem.
Quilo não é documentoA insatisfação de Ana Luiza, que se incomoda com o corpo mais agora do que quando era obesa, tem explicação. “Há um nível de sobrepeso que faz com que algumas gordinhas fiquem à vontade na hora do sexo. Geralmente, como já estão excluídas do padrão de beleza, não precisam provar nada para a sociedade. E muitas delas são um arraso na cama”, afirma Saadeh. Já quando emagrecem a situação muda, porque toda a cobrança social relacionada ao tal ideal de beleza passa a afetá-las.“Com a mudança, aspectos mais corriqueiros, como a pele, que fica flácida, passam a ser percebidos e valorizados”, diz o psiquiatra Adriano Segal, do Hospital das Clínicas.
Porém, na maioria dos casos, quem era gorda e deixa de ser experimenta uma satisfação em relação à própria imagem maior do que muita magra de nascença. O fato de atrair olhares masculinos e caber em roupas da moda já deixa a mulher segura para colocar um vestido justo e, se for o caso, tirá-lo sem drama. Mas a pressão para se adequar a determinado padrão acaba, na maioria das vezes, derrubando a auto-estima. “A mulher pensa: 'Se eu me despir ou tiver um contato mais íntimo, vou me sentir avaliada, julgada'. Então pode desenvolver o transtorno de inibição do desejo. Isso é muito comum”, alerta a psicóloga Christine.
Isso explica o fato de mesmo mulheres com tudo em cima acreditarem que só vão ficar bem depois do silicone, da lipo ou dos 2 centímetros a menos no culote. Elas evitam também muitas vezes momentos de intimidade que exponham suas curvas sem máscaras. “Desde a liberação feminina, a mulher comprou a idéia de que tem que ser perfumada, grande executiva, mãe, romântica e estar com o cabelo impecável para ser feliz. Mas isso é uma fantasia só delas”, conclui Saadeh. Ele ressalta ainda que o apetite sexual pode ser prejudicado pelo excesso de magreza. “Muita mulher magra tem falta de nutrientes, o que diminui a libido e causa problemas menstruais. O que adianta ser linda se na cama não consegue relaxar?”, questiona o psiquiatra. Mas, numa sociedade que cobra perfeição baseada em padrões utópicos, fica mesmo difícil relaxar. “O padrão vai sempre existir”, aposta Christine. Mas você pode escolher ver seu corpo com seus próprios olhos.

*Gabriela Aguiar é um nome fictício

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